記事番号: 1-1031
公開日 2020年01月20日
南米移住者子弟研修生受入事業で研修を終了した研修生からおたよりが届きました。
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帰宅する
2019年度南米移住者子弟研修生
澤岻 カロリナ カツミ(ブラジル)
沖縄での経験は私の人生に変化を与えた出来事の一つでした。家族を知り、私の祖先を理解することができ、ブラジルに帰りたくないと思うほど、沖縄との絆を深めることができました。もう一つ感動したことは、三線と太鼓の演奏方法を学ぶことが出来たことです。私の曾祖父である銘苅清正は、サンパウロで三線を作る有名な職人でしたが、私はこの三線に出会い演奏することで、再び彼とつながったように感じています。
私が子どもの頃に、曾祖父がヘビの皮を伸ばし、三線の胴作りの作業をしていた思い出はありますが、彼が何をしていたのかその時は分かりませんでした。外国にいるすべての移民と同じように、私の家族も貧困から抜け出すために一生懸命働かなければなかったので、曾祖父のこの三線作りの技術を教えてもらう時間はありませんでした。そのため、残念なことに、私の家族には三線作りはおろか、三線を弾くことが出来る者は一人もいませんでした。
ブラジルに帰り、皆に会うとすごく嬉しくて、これほど家族を恋しく思っていたのだと気づきました。わずか4か月間でしたが、私の留守中に多くのことが起きたそうです。家族は私の帰りをパーティで迎えてくれ、私の沖縄での経験を聞きたがりました。沖縄で訪ね歩いた場所、出会った人や友人、そして沖縄の家族の写真を見せることができ、ブラジルの家族と沖縄の家族の架け橋になったように感じることができました。研修修了式での踊りや歌の発表も見せました。私が三線を取り演奏を始めると、その曲を知っている皆で一緒に歌いました。私の母は泣き、曾祖父が生きていたら彼は私をとても誇りに思っているはずだと言いました。
家族の前で三線を弾くことは、沖縄で弾いた時と同じぐらい特別な感じがしました。皆も私と同じように自分のルーツを感じていたと思います。生で三線の演奏を聞いたことのない人は、三線の音色に興味や好奇心を抱いていました。ある人が、私の曾祖父は、三線に加えて琴も作り、曾祖母が弾いていたと思い出を話してくれました。音楽は私たちをより密接に結びつけ、さらに家族との思い出を思い出させる力があると理解しました。
研修を終えブラジルに戻った浦添市の研修生は、伝統として、サンタクララ会館で学んだことをコミュニティに発表します。今年は叔母のヘレナ・ケイコとセシリア・銘苅と一緒に三線の演奏します。ケイコは1996年度の研修生で、セシリアは三線を習い始めていたので、祖父の家に集まり練習しました。私の祖母が亡くなって以来、祖父は悲しくて、ますます静かになりました。彼は家を出るのが好きではなく、また聴覚障害のためほとんど人と話をしません。しかし、私たちが練習している間は私たちと一緒にいて、調子外れで演奏するのを聞いて、間違うたびに笑っていました。祖父は楽しそうで、悲しみが消えているようでした。
三線と音楽を通して、私と私の家族は私たちのルーツとつながっています。それは私たちを変え、私たちを結びつけ、沖縄人であることを誇りに思わせてくれます。
【ポルトガル語】
Voltando para casa
A experiência vivida em Okinawa foi uma das mais transformadoras da minha vida, poder conhecer meus familiares e compreender a minha ancestralidade, me ajudou a criar laços e me sentir tão em casa que não queria mais voltar para o Brasil. Outra coisa que me marcou foi ter a oportunidade de aprender a tocar sanshin e taiko, dois instrumentos que me identifiquei muito, até porquê meu bisavô Seisho Mekaru era artesão e conhecido em São Paulo por fazer sanshins, então poder tocar este instrumento me fez sentir ligada a ele novamente.
Eu tenho lembranças de quando criança, ele esticando a pele de cobra e moldando o corpo do sanshin mas nessa época eu nem sabia o que ele estava fazendo. Como todo imigrante em terras alheias, a minha família teve que trabalhar muito para sair da zona de pobreza, por isso faltou tempo e oportunidade para o meu bisavô poder passar essa sabedoria adiante. Infelizmente hoje, ninguém na família sabe tocar sanshin e nem construir um.
Voltar ao Brasil e reencontrar minha família foi emocionante, não tinha me dado conta de quanto eu sentia falta deles. Foram só quatro meses, mas muitas coisas aconteceram enquanto eu estava fora. Fui recebida com uma festa e todos queriam ouvir minhas histórias de Okinawa. Pude mostrar fotos das viagens que fiz, dos amigos e das pessoas que eu conheci e mostrar também as fotos da nossa família, me senti como se fosse uma ponte entre a família do Brasil e a família de Okinawa. Mostrei também o vídeo da cerimônia de encerramento onde eu dancei e cantei e eles adoraram. Então peguei meu sanshin e comecei a tocar e cantar para os presentes, alguns sabiam as músicas e cantaram junto comigo, minha mãe chorou e me disse que se o meu bisavô estivesse vivo, ele estaria muito orgulhoso de mim.
Tocar na frente deles foi tão especial quanto tocar em Okinawa, eu acredito que eles sentiram o mesmo que eu, que através da música nós estávamos nos conectando à nossa própria ancestralidade. Pessoas que nunca tinham ouvido a música ao vivo, ficaram interessados e curiosos. Os que tinham lembranças começaram a contar histórias e descobri que além do sanshin, meu bisavô também construía Koto e a minha bisavó tocava. A música nos uniu ainda mais e além disso, pude entender que a minha conexão com a música é forte pois isso me remete às lembranças com a minha família.
Como tradição, todos os bolsistas de Urasoe quando voltam ao Brasil fazem uma apresentação no Kaikan de Santa Clara para apresentar à comunidade o que tivemos oportunidade de aprender. Este ano, vou tocar sanshin com as minhas tias Helena Keico e Cecília Mekaro. A Keiko foi bolsista em 1996 e a Cecília estava começando a aprender a tocar, nos reunimos na casa do meu avô para praticar as músicas. Desde a morte da minha avó, meu avô aposentado ficou cada vez mais quieto e triste, ele não gosta de sair de casa e quase não conversa com as pessoas devido à um problema de audição. Mas durante nossos treinos, ele se aproxima e fica conosco, nos ouvindo tocar desafinadamente e rir toda vez que a gente erra feio. Ele se diverte e às vezes fica com o pensamento longe como se fosse transportado para outro tempo.
Portanto, através do sanshin e da música, além de mim, minha família também está se conectando com suas próprias raízes. Isso nos transforma, nos une e nos enche de orgulho por ser okinawanos.